- Evocação.
Espírito: "Que tinhas de me chamar? Queres umas pedradas? Então é
que se havia de ver um bonito salve-se quem puder, não obstante o teu ar de
valentia."
- Quando mesmo nos atirasses pedras aqui, isso não nos amedrontaria; até te
pedimos positivamente que, se puderes, nos atires algumas.
Espírito: "Aqui talvez eu não pudesse, porque tens um guarda a velar
por ti."
- Havia, na rua des Noyers, alguém que, como auxiliar, te facilitava as
partidas que pregavas aos moradores da casa?
Espírito: "Certamente; achei um bom instrumento e não havia nenhum
Espírito douto, sábio e virtuoso para me embaraçar. Porque, sou alegre;
gosto às vezes de me divertir."
- Qual a pessoa que te serviu de instrumento?
Espírito:"Uma criada."
- Era mau grado seu que ela te auxiliava?
Espírito: "Ah! sim; pobre! era a que mais medo tinha!"
- Procedias assim com algum propósito hostil?
Espírito: "Eu, não. Nenhum propósito hostil me animava. Mas, os
homens, que de tudo se apoderam, farão que os fatos redundem em seu
proveito."
- Que queres dizer com isso? Não te compreendemos.
Espírito: "Eu só cuidava de me divertir; vós outros, porém,
estudareis a coisa e tereis mais um fato a mostrar que nós existimos."
- Dizes que não alimentavas nenhum propósito hostil; entretanto, quebraste
todo o ladrilho da casa. Causaste assim um prejuízo real.
Espírito: "É um acidente,"
- Onde foste buscar os objetos que atiraste?
Espírito: "São objetos muito comuns. Achei-os no pátio e nos jardins
próximos."
- Achaste-os todos, ou fabricaste algum?
Espírito: "Não criei, nem compus coisa alguma."
- E, se os não houvesse encontrado, terias podido fabricá-los?
Espírito: "Fora mais difícil. Porém, a rigor, misturam-se matérias
e isso faz um todo qualquer."
- Agora, dize-nos; como os atiraste?
Espírito: "Ah! isto é mais difícil de explicar. Busquei auxílio na
natureza elétrica daquela rapariga, juntando-a à minha, que é menos
material. Pudemos assim os dois transportar os diversos objetos."
- Vais dar-nos de boa-vontade, assim o esperamos, algumas informações acerca
da tua pessoa. Dize-nos, primeiramente, se já morreste há muito tempo.
Espírito: "Há muito tempo; há bem cinqüenta anos."
- Que eras quando vivo?
Espírito: "Não era lá grande coisa; simples trapeiro naquele
quarteirão; às vezes me diziam tolices, porque eu gostava muito do licor
vermelho do bom velho Noé. Por isso mesmo, queria pô-los todos dali para
fora."
- Foi por ti mesmo e de bom grado que respondeste às nossas perguntas?
Espírito: "Eu tinha um mestre."
- Quem é esse mestre?
Espírito: "O vosso bom rei Luís."
- NOTA.
Motivou esta pergunta a natureza de algumas respostas dadas, que
nos pareceram acima da capacidade desse Espírito, pela
substância das ideias e mesmo pela forma da linguagem. Nada,
pois, de admirar é que ele tenha sido ajudado por um Espírito
mais esclarecido, que quis aproveitar a ocasião para nos
instruir. É este um fato muito comum, mas o que nesta
circunstância constitui notável particularidade é que a
influência do outro Espírito se fez sentir na própria
caligrafia. A das respostas em que ele interveio é mais regular e
mais corrente, a do trapeiro é angulosa, grossa, irregular, às
vezes pouco legível, denotando caráter muito diferente.
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- Que fazes
agora? Ocupas-te com o teu futuro?
Espírito: "Ainda não; vagueio. Pensam
tão
pouco em mim na Terra, que ninguém roga por mim. Ora, não tendo quem me
ajude, não trabalho."
- NOTA.
Ver-se-á, mais tarde, quanto se pode contribuir para o progresso
e o alívio dos Espíritos inferiores, por meio da prece e dos
conselhos.
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- Como te chamavas quando vivo?
Espírito: "Jeannet."
- Está bem, Jeannet! oraremos por ti. Dize-nos se a nossa evocação te deu
prazer ou te contrariou?
Espírito: "Antes prazer, pois que sois bons rapazes, viventes alegres,
embora um pouco austeros. Não importa: ouviste-me, estou contente."
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