Há
pessoas desinteressadas, mas sem discernimento, que prodigalizam seus haveres sem utilidade real, por lhes não saberem dar emprego
criterioso. Essa pessoas têm o merecimento do desinteresse, porém não o
do bem que poderiam fazer.
O desinteresse é uma virtude, mas a prodigalidade irrefletida constitui sempre, pelo menos, falta de juízo. A riqueza,
assim como não é dada a uns para ser aferrolhada num cofre forte, também não
o é a outros para ser dispersada ao vento. Representa um depósito de que uns e
outros terão de prestar contas, porque terão de responder por todo o bem que
podiam fazer e não fizeram, por todas as lágrimas que podiam ter estancado com
o dinheiro que deram aos que dele não precisavam.
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p.412 q.896]
Aquele
que faz o bem, sem visar a qualquer recompensa na Terra,
esperando que lhe seja levado em conta na outra vida e que lá venha a ser
melhor a sua situação não será reprovado por isso. Porem, o bem deve ser
feito caritativamente,
isto é, com desinteresse.
Contudo,
todos alimentam o desejo muito natural de progredir, para forrar-se à penosa
condição desta vida. Os próprios Espíritos nos ensinam a praticar o bem com
esse objetivo. Não é, então, um mal pensarmos que, praticando o bem, podemos
esperar coisa melhor do que temos na Terra. Porem, aquele que faz o bem,
sem ideia preconcebida, pelo só prazer de ser agradável a Deus e ao seu
próximo que sofre, já se acha num certo grau de progresso, que lhe permitirá
alcançar a felicidade muito mais depressa do que seu irmão que, mais positivo,
faz o bem por cálculo e não impelido pelo ardor natural do seu coração.
Não
há demérito em fazer o bem com a ideia de que nos seja levado em conta na
outra vida; igualmente não será indício de inferioridade emendar-se,
vencer as nossas paixões,
corrigir o caráter, com o propósito de se aproximar dos bons Espíritos e de
se elevar.
Quando
dizemos - fazer o bem, queremos significar - ser caridoso.
Procede
como egoísta todo aquele
que calcula o que lhe possa cada uma de suas boas ações render na vida futura,
tanto quanto na vida terrena. Nenhum egoísmo, porém, há em querer o homem
melhorar-se, para se aproximar de Deus, pois que é o fim para o qual devem
todos tender.
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p.413 q.897] |