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Relação dos primeiros Cristãos com os Espíritos
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Crianças e Adolescentes
DESAPARECIDOS
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____Relativamente ao comércio dos primeiros cristãos com os Espíritos, as seguintes passagens das Escrituras nos devem chamar particularmente a atenção:

    • “E disseram eles a Paulo, sob a influência do espírito, que não subisse para Jerusalém.” (Atos, XXI, 4)

____I Cor. XIV, 30, 31. Trata-se da ordem a estabelecer nas reuniões dos fiéis:

    • “Desde que um dos que estão sentados (no templo) recebe uma revelação, cale-se o que primeiro falava. Porque todos podeis profetizar, um depois do outro, a fim de que todos aprendam e sejam todos exortados.”

____Dessa instrução ressalta que profetizar não era outra coisa senão transmitir um ensino; é ainda a função do médium falante ou de incorporações.

____Paulo, dirigindo-se a uma assembléia, dizia (Atos, XXIII, 6-9):

____Produziu-se um grande ruído, e alguns dos fariseus contestavam, dizendo:

    • “Nenhum mal encontramos neste homem. Quem sabe se lhe falou algum espírito ou anjo?

____Paulo fora avisado em sonho de que passasse por Macedônia, com Timóteo (Atos XVI, 16, 17):

  • “Encontram eles uma serva moça que, tendo um espírito de Píton, auferia, em benefício de seus amos, grandes lucros, adivinhando. Ela se pôs a segui-los durante muitos dias, clamando:
    • Esses homens são servos do Altíssimo, que nos anunciam o caminho da salvação.”

____A expressão “espírito de Píton” designava, na linguagem daquele tempo, um mau_Espírito. Era empregada pelos judeus ortodoxos, que só admitiam o profetismo oficial, reconhecido pela autoridade sacerdotal, desde que os seus ensinos eram conformes com os deles; pelo contrário, condenavam o profetismo popular, praticado sobretudo por mulheres, que dele tiravam partido, como em nossos dias ainda o fazem alguns médiuns_mercenários. Essa qualificação, porém, de “espírito de Píton” era muitas vezes arbitrária. Disso vamos encontrar a prova no fato de a vidente ou “pitoniza” de Éndor, que serviu de intermediária a Saul para comunicar com o Espírito de Samuel, possuir também, segundo a expressão bíblica, um “espírito de Píton”. Entretanto, não é possível confundir o Espírito do profeta Samuel com Espíritos de ordem inferior. A cena descrita pela Bíblia é de uma imponência grandiosa; oferece todos os caracteres de uma elevada manifestação.(147)
____No caso da jovem serva, citado acima a propósito de Paulo, a admitir-se que os maus Espíritos podiam pregar o Evangelho, acompanhando os apóstolos, difícil se tornaria distinguir a fonte das inspirações. Era o que fazia objeto de atenção especial em todas as circunstâncias, nas assembléias dos fiéis. Disso encontramos a afirmação num documento célebre, cuja análise damos a seguir:

    • A Didaque, pequeno tratado descoberto em 1873, na biblioteca do patriarcado de Jerusalém, em Constantinopla, composto provavelmente no Egito, entre os anos 120 e 160, projeta uma nova luz sobre a organização da igreja cristã no começo do século II, sobre o seu culto e a sua fé. Compreende várias partes:
      • a primeira, essencialmente moral, abrange seis capítulos destinados a instruções dos catecúmenos. O que, sobretudo, é digno de nota nesse catecismo é a completa ausência de todo elemento dogmático.
      • A segunda parte trata do culto, isto é, do batismo, da prece e da comunhão
      • a terceira contém uma liturgia e uma disciplina. Recomenda a observância do domingo; estabelece regras para discernir dos falsos os verdadeiros profetas (leia-se médiuns); assinala as condições requeridas para ser bispo ou diácono,
      • e termina com um capítulo sobre as coisas finais e a Parusia ou volta do Cristo.

____Essa obra apresenta um quadro da igreja primitiva muito diferente do que comumente se imagina.(148) Os cristãos desse tempo conheciam perfeitamente as práticas necessárias para se entrar em comunicação com os Espíritos e não perdiam ocasião de a cultivar. Aqui estão dois exemplos positivamente notáveis:

  • O papa São Leão havia escrito a Flaviano, bispo de Constantinopla, uma carta célebre sobre a heresia de Eutíquio e de Nestório. Antes, porém, de a expedir, colocou-a no túmulo de São Pedro, que fizera previamente abrir e ao pé do qual se conservou em jejum e oração durante quatro dias, conjurando o príncipe dos apóstolos a corrigir pessoalmente o que à sua fraqueza e prudência tivesse escapado em contrário à fé e aos interesses de sua Igreja. Ao fim dos quatros dias lhe apareceu o príncipe dos apóstolos e lhe disse:
    • “Li e corrigi”. O papa fez de novo abrir o túmulo e encontrou o escrito efetivamente corrigido.(149)

____Aqui está, porém, melhor ainda. Segundo refere Gregório de Cesaréia (150) e depois dele Nicéforo (155), todo um concílio teria evocado os Espíritos:

    • Ao tempo em que o concílio ainda efetuava suas sessões, e antes que os Padres tivessem podido assinar as decisões, dois piedosos bispos, Crisântus e Misônius, faleceram. O concílio, depois de haver lavrado o termo, lastimando vivamente não ter podido juntar seu voto aos de todos os outros, compareceu incorporado ao túmulo dos dois bispos e um dos padres, tomando a palavra, disse:
      • ‘Santíssimos pastores, terminamos juntos nossa tarefa e combatemos os combates do Senhor. Se a obra lhe agrada, dignai-vos no-lo fazer saber, apondo-lhe vossa assinatura.’

____“Em seguida foi à decisão lacrada e deposta no túmulo, sobre o qual foi também aposto o selo do concilio. Depois de terem passado toda à noite em oração, no dia seguinte, ao amanhecer, quebraram os mesmos selos e encontraram, por baixo do manuscrito, as seguintes linhas autenticadas com as rubricas e assinaturas dos defuntos consultados:

    • ‘Nós, Crisântus e Misônius, que havemos assentido, com todos os Padres, ao primeiro e santo Concílio Ecumênico, posto que presentemente despojados de nossos corpos, subscrevemos, entretanto, do nosso próprio punho a sua decisão.&rsquo

____A Igreja – acrescenta Nicéforo – considerou essa manifestação como um notável e positivo triunfo sobre seus inimigos”.(151)
____Aí estão dois fatos de escrita direta, fenômeno comprovado também atualmente.(152)
____Do mesmo modo que os fariseus acusavam certos profetas de serem animados do “espírito de Píton”, assim também, entre, os padres católicos dos nossos dias, muitos atribuem as manifestações espíritas aos demônios ou espíritos infernais:

    • “São os demônios, diz o arcebispo de Tolosa, em sua pastoral, pela quaresma de 1875, pois que não é permitido consultar os mortos. Deus lhes recusa a faculdade de satisfazer as nossas vãs curiosidades.”

____Ele não recusou, entretanto, a Samuel, no caso antes aludido, que satisfizesse a curiosidade de Saul em Êndor.
____Mas nem todos os padres católicos são dessa opinião. No seio do clero, muitos espíritos argutos têm compreendido a importância das manifestações espíritas e o seu verdadeiro caráter.

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147 - Ver 1 Reis, XXVII, 6 e seguintes.
148 - Tradução francesa de Paul Sabatier, doutor em teologia, Paris, Fischbacher, 1885.
149 - Sofrônius, cap. CXLVII.
150 - Em Lipoman, t. VI. Discurso acerca do sínodo de Nicéia. 155 Livro VIII, cap. XXIII.
151 - Ver Revue Scientifique et Morale du Spiritisme, fevereiro 1900.
152 - Ver Léon Denis, No Invisível - "Espiritismo e Mediunidade", cap. XVIII.

[6 - página 277 - Nota 6]

Ver também:
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