CAPÍTULO IX, do livro "MECÂNICA PSÍQUICA", 2ª Edição - 1975, de W. J. Crawford
LAKE - Livraria Allan Kardec Editora ____Proponho-me a expor neste capítulo uma teoria da levitação, baseada em grande parte nos resultados das 66 experiências descritas nos capítulos anteriores:
____Após anotar todos os dados da experiência_50, tentei ver em primeiro lugar se a levitação se explicava por um sistema de duas, três, ou mesmo quatro forças em equilíbrio. O resultado foi absolutamente nulo. A simples estática jamais explicará o fenômeno, pelo menos tanto quanto posso julgar. A teoria que então me pareceu corresponder melhor aos fatos, foi aquela da “viga” e em particular da “alavanca encaixada”. A alavanca encaixada é uma viga solidamente fixa numa extremidade a uma parede e livre na outra. Suponhamos que o médium substitua a parede, que a alavanca seja projetada fora de seu corpo e sustente a mesa em sua extremidade.
- 1º) Durante uma levitaçãoregular acima do solo, sem aparelho sob a mesa, o peso da mesa é acrescido ao do médium. (Experiências 2, 3 e 4.)
Isto concorda com a teoria da alavanca. A viga tendo sua extremidade livre, é claro que o peso acrescenta-se de fato ao peso do médium.
- 2º) O médium encontra-se num estado de tensão muscular (Exp. 62) correspondente à resistência, ao momento do peso da mesa.(1) êsse momento, ainda que bastante variável, raramente é inferior a 2 quilogrâmetros 875, se admitirmos que a alavanca psíquica esteja fixa ao tronco do médium.
- 3º) Sob a mesa não há reação sôbre o solo. (Exp. 38 ; Exp. 51, 52 e Exp. 61.)
Isto ajusta-se à teoria da alavanca. A extremidade livre estando no ar, o peso a faz descer um pouco, mas não afeta o solo de maneira alguma.
- 4º) Além da reação sôbre o médium, igual ao peso da mesa, há uma ligeira reação sôbre os assistentes.
____Cerca de 97% do peso da mesa parece estar sobre o médium e os 3% restantes sobre os outros membros do círculo. (Exp._5_e_6.) Isto acarreta uma ligeira modificação à teoria da alavanca. A extremidade livre não o é inteiramente, é sustentada muito levemente por frágeis alavancas que emanam dos assistentes.
- 5º) Durante uma levitaçãopoderosa, se existe uma força muscular aplicada à mesa, em um ponto qualquer que a une ao médium, a resistência é sólida, ao passo que se a mesa sofre uma pressão vertical, a resistência é elástica. (Exp. 18, 19, 20.)
Isto ajusta-se à teoria da alavanca. A viga oferece uma resistência mais ou menos rígida às forças longitudinais e uma resistência elástica às forças normais.
- 6º) A própria alavanca, ainda que invisível, pode ser pesada. Exp. 63.)
Se a matéria que compõe a alavanca psíquica é emprestada ao médium, o peso dêste não pode ser alterado; realmente, é ela projetada fora de seu corpo e não é sustentada em parte alguma sobre sua extensão. Isto estaria de acôrdo com todas as experiências: durante a levitação não se observa diminuição alguma de peso no médium.
- 7º) Há uma distância crítica, entre o médium e a mesa, para a levitação. (Exp._10.) Isto seria devido à estrutura da alavanca. Talvez não se trate de uma simples haste ou de um raio, mas de um feixe de diversas ramificações, e sua fusão exigiria que o médium não se encontrasse nem muito próximo nem muito distante da mesa.
- 8º) Passo agora aos desconcertantes resultados expostos no capítulo VII. (Exp. 50 e 53.)
____A mesa_(nº1) (4 quilos 700) estando normalmente suspensa, havia sobre a balança dinâmica, uma presão vertical de 13 quilos 600, ou seja 2,89 vêzes o peso da mesa. Havia também uma pressão horizontal de 2 quilos 850 procedente do médium. Essas forças verticais e horizontais não estavam separadas, mas formavam os componentes de uma força única.
(Ver: Procedimento_das_manifestações_físicas )
____Em segundo lugar, enquanto um tamborete de 1 quilo 250 estava normalmente suspenso acima da báscula, esta acusava uma pressão vertical de 8 quilos 500, ou seja 6,8 vêzes o peso do tamborete.
____Como explicar êsses resultados incontestáveis pela teoria da alavanca?
Na posição normal, a extremidade livre da alavanca está mais ou menos a 15 cms. do solo. Na posição anormal, essa extremidade, que é elástica, ergue-se e pressiona obliquamente sôbre a parte superior da balança. Essa pressão pode se decompor em uma força vertical e uma horizontal correspondente às observações da Exp. 50.
A hipótese da rigidez da alavanca explica as indicações singulares das balanças.
Nas duas experiências a) e b) a altura do estrado de onde partia a levitação era mais ou menos a mesma, ou seja 35 cms. Em a) a pressão era de 13 quilos 600 e em b) de 8 quilos 500. Por que, se as alturas são as mesmas, as pressões não o são? é porque a alavanca não conserva a mesma rigidez. O peso do corpo suspenso em a) era de 4 quilos 700 e em b) de 1 quilo 250. Os operadores não tinham necessidade de enrijecer tanto a alavanca em b) quanto em a); por conseguinte, esta erguia-se mais facilmente e hão exercia uma pressão tão forte sobre a balança.
As exp._51_e_52 confirmaram inteiramente as minhas hipóteses relativas à alavanca. Notei somente uma divergênca, a descontinuidade da pressão vertical com a altura. As três experiências também não deram as mesmas indicações, para o mesmo estrado e para a mesma altura; entretanto, as conclusões gerais permaneceram as mesmas. Aliás, não se pode esperar que os resultados sejam idênticos; é lógico supor que o comprimento da alavanca variasse a cada sessão e mesmo diversas vêzes durante a sessão, sua forma geral podendo ainda sofrer alguma alteracão.
____O componente horizontal da reação, não existe senão quando a extremidade da alavanca se dobra para o alto. Não haveria componente horizontal na levitação normal acima do solo, se na extremidade livre não houvesse pressão. Não tive ocasião de fazer experiências para descobrir a relação entre o componente horizontal e a altura do estrado, mas penso que ela aumentaria gradualmente a partir de zero.
As exp._59_e_60 mostram claramente que, no espaço entre o médium e a mesa em levitação, existem uma ou diversas linhas, ou antes um tubo_de_força. A seção dêsse tubo não parecia medir mais que alguns centímetro quadrados (cm2). Próximo ao médium e seus joelhos, êle estava cerca de 60 cms. acima do solo. Por outro lado, as exp._51_e_52 mostram que, sob a mesa, a pressão mecânica se faz sentir sôbre o estrado_da_balança, quando êsse estrado está cerca de 7 cms. 1/2 acima do solo. Esta série de observações concorre, por conseguinte, a favor da teoria da alavanca. Esta projeta-se do corpo do médium, inclinando-se até se encontrar sob a mesa e a alguns centímetros acima do solo. Tôdas as experiências demonstram não ser ela sustentada em parte alguma de sua extensão.
Trata-se agora de determinar se é direta ou curva. Não tenho sobre êsse ponto as mesmas precisões. Creio ter ela a forma representada na figura 1, isto é, um braço A ligeiramente convexo saindo do médium M, onde está solidamente encaixada e uma coluna vertical B cuja extremidade apoia a mesa suspensa. A forma levemente arqueada do braço serve para dar mais rigidez à estrutura.
Fig. 1 Forma geral da alavanca psíquica. ____Quando o estrado da balança colocada sob a mesa está a mais de 7 cms. 1/2 acima do solo, o ângulo C faz pressão em cima, o que produz os resultados das exp._51_e_52. O indicador elétrico cortava o braço A quando a campainha se fazia ouvir.
Não examinarei aqui a questão de saber como uma estrutura, possuindo as características de uma tal alavanca e cuja extremidade pode sustentar por mais de cinco minutos um corpo sólido pesando 4 quilos 1/2, aparentemente não é feito de nada. Voltarei ao assunto.
A alavanca AB, na minha opinião, não é senão uma modalidade dos fenômenos produzidos pelos operadores. A levitação da mesa é um trabalho delicado, devido à precisão de equilíbrio a obter. Não se trata, realmente, de impelir o móvel a torto e a direito. É o que explica a demora dos preparativos. Uma comunicação física parece se estabelecer entre o médium e a mesa, e quando essa linha está bem assente, a força_psíquica age ao comprido da linha, isto é, torna-se rígida. (Ver: Procedimento_das_manifestações_físicas )
Quando os operadores querem agarrar a mesa de um modo mais vigoroso, por exemplo, deslocá-la pelo quarto com energia para impressionar um visitante que a sustém e procura imobilizá-la, êles inclinam a borda de 40º em direção ao médium. Não há problema de equilíbrio a resolver, por conseguinte não há preparativos: a mesa inclina-se, e um braço curto, quase recto, projeta-se do médium sob a mesa (fig. 2). Muitas experiências demonstram que essa forma do braço da alavanca é própria e que possivelmente existem outras. Podemos compará-la à tromba de um elefante. Para uma levitação delicada, a tromba teria a forma apresentada na figura 1; por meio de um esfôrço poderoso, ela seria curta, recta, espêssa. Dir-se-ia que a extremidade do braço segura a madeira da mesa e certos objetos, a êles aderindo. |
experiência 68.— Pesquisa da tração psíquica.____Quando a mesa está no chão, no meio do círculo, os operadores podem levá-la próximo ao médium. Tendo constatado que êles a puxavam ora por um canto, ora por outro, assegurei-me de que podiam deslocá-la paralelamente a si mesma e procurei, interrogando-os, saber por que meios. Finalmente disse-lhes: “Operam vocês por sucção?” Três pancadas fortes e quase festivas, responderam afirmativamente. Experiências, posteriores diversas, deram-me a quase certeza de que os operadores diziam a verdade.
____Eis o que se passa. O braço da alavanca vai sob a mesa, em linha mais ou menos recta, pois o esfôrco é minimo. Sua larga extremidade, em forma de coluna, agarra a parte inferior da mesa e os operadores fazem simplesmente tornar a entrar no corpo do médium a alavanca por inteiro. Podem assim imprimir a mesa todos os movimentos já descritos. Exp. 69. — Tração psíquica durante a levitação. ____Ergui a mesa no ar e pedi aos operadores puxarem-na como já o haviam feito: obedeceram imediatamente. A tração era muito sensível e contrariamente à minha espectativa, parecia aplicar-se bastante baixo sob a mesa, a 30 cms. pouco mais ou menos do solo. Diversas experiências deram o mesmo resultado. Além disso, o órgão trator pareceu-me, ao tocar, sólido e de modo algum elástico ou mole. Quanto à mesa, estava fortemente agarrada.
____Tomemos o caso das quatro mesas suspensas acima do estrado da balança (capítulo_VI). Duas dentre elas foram erguidas horizontalmente, duas outras, menores, a um ângulo de pouco mais ou menos 30º. Não é provável que os operadores experimentassem certa dificuldade em ajustar seu braço de alavanca exatamente por baixo, em face da exigüidade relativa da superfície e por se acharem elas, sôbre o estrado, a uma altura de cerca de 17 cms.? A alavanca, em lugar de ser do tipo normal da figura 2, sofreu, para maior comodidade, uma inflexão. A parte próxima ao médium, provàvelmente permanece estreita e o resto condensa-se sob a mesa. Talvez existam mesmo dois ou três braços que ali se reunam em um só. M (Médium) e T (Table = Mesa)
Fig. 2 — Forma da alavanca no caso de uma levitação poderosa.
____A teoria da alavanca encaixada deita alguma luz sôbre os resultados anormais do capítulo_VI. Lembremo-nos que (exp._43) durante a levitação do tamborete, o fiel da báscula estava inteiramente rígido só voltando a encontrar sua sensibilidade mais tarde. É provável que o dispositivo empregado estivesse inclinado. O componente horizontal, bastante poderoso, impelia o estrado sôbre suas arestas e ocasionava uma certa fricção. É preciso não esquecer que a alavanca, na levitação, toma diversas formas, segundo o principio do mínimo esfôrço, e que a intensidade e direção das reações estão sujeitas a variar. Durante a exp. 57, uma pancada se fêz ouvir sob a mesa, exatamente antes da levitação. Não seria por estar a superfície da coluna aplicada sob o móvel com maior vigor do que habitualmente?
____Demonstrei na exp._24 que se pode virar a mesa e que o experimentador é incapaz de erguê-la. A fig. 3 indica o que provavelmente se passa. Na exp._29, como eu segurasse no ar uma pequena corneta de metal, atrairam-na com tal violência que quase me foi arrancada. Uma alavanca psíquica devia se projetar fora do médium, sua extremidade, após tatear por uns vinte segundos, colar-se à ponta da corneta e a alavanca entrar bruscamente no corpo do médium. (Ver: Procedimento_das_manifestações_físicas ) M (Médium) e T (Table = Mesa)
Fig. 3 – Alavanca psíquica virando a mesa.
____Uma outra experiência com a corneta, forneceu-me alguns dados interessantes. Exp. 70. — Levitação de uma corneta (2). ____No início da sessão, a corneta encontra-se no chão sob a mesa. Após um momento, eleva-se no ar do lado oposto ao médium e agita-se horizontalmente, marcando compasso durante cinco minutos ou mais. Observei com freqüência êsse fenômeno, porém somente três vêzes vi o seguinte: depois de se manter no ar por algum tempo, a corneta, se entesa até tocar a borda da mesa, subindo então por movimentos bruscos ao longo dessa borda, a pequena ponta para a frente. Os operadores jamais conseguiram fazê-la cair sobre a mesa, na minha presença. Os assistentes foram uma vez mais felizes do que eu.
____Na exp._22, vimos que a mesa podia, à vontade, tornar-se leve como uma pluma ou tão pesada que seria impossível erguê-la. Por outro lado, nas exp._45,_47, etc., a reação normal sendo de 13 quilos 600 para uma levitação regular, essa reação não tem lugar repentinamente, mas aumenta constantemente durante mais ou menos 5 ou 6 segundos, depois do que a mesa se eleva no espaço. Segundo minha teoria, êsse aumento progressivo corresponde ao aumento de rigidez da alavanca, em luta com o peso. Se a rigidez não é bastante grande para erguer a mesa, e entretanto permite à alavanca exercer uma pressão ascendente, há uma diminuição aparente de peso. Ora, os operadores podem deter a força psíquica à vontade. Quanto ao aumento de peso da mesa, é obtido pela adesão da alavanca e pressão para baixo. M (Médium) e T (Table = Mesa)
Fig. 4 — Levitação da mesa.
____Um fato várias vêzes destacado por mim, é que a mesa parece arremessar-se no ar quando a pressão psíquica torna-se suficientemente forte. Dir-se-ia que é suprimida repentinamente uma força antagônica àlevitação. A hipótese seguinte, que me parece pelo menos provável, explicará talvez em parte o fato.
____Enquanto a levitação se prepara, a linha de comunicação (seja qual for) é mole, frouxa; um vínculo flexível reune o médium à mesa. A força psíquica estende-se ao longo dessa linha e a alavanca rígida forma-se pouco a pouco. Em dado momento, que depende de sua rigidez, a extremidade da alavanca entesa-se repentinamente. Torna-se reta e vertical entesando a mesa, que se eleva de um salto. (fig. 4).
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(1) O momento de uma força, em mecânica, é o produto desta força pela sua distância ao ponto de apoio. êle mede o trabalho que a força deve realizar para vencer a resistêncla que mantém o equilíbrio.
(2) Ver capítulo IV, exp. 29. |