____206. Vimos (194_e_203) que a nossa influência radiante se exerce sobre os nossos
semelhantes e sobre nós mesmos, mas não se detém aí a nossa ação magnética; ela se
estende igualmente aos animais e às plantas. (16)
____As nossas correntes haurindo a sua origem na grande corrente universal que
imprime a todos os seres organizados os seus princípios_vivificantes, a unidade vital da
natureza fazendo com que tudo palpite sob a influência duma mesma vibração, não é
para admirar que os espíritos vitais dos animais e das plantas recebam um impulso das
nossas correntes e que as propriedades desses corpos possam aumentar-se ou
restabelecer-se sob a influência da nossa ação magnética. (14 e 16)
____Se devemos ser reconhecidos à natureza por ela nos ter outorgado o precioso dom
de curar os nossos semelhantes, devemos igualmente agradecer-lhe por nos haver
permitido estender os nossos benefícios aos animais domésticos, esses humildes
servos que nos ajudam em nossos trabalhos diários e cuja afeição dedicada enche
muitas vezes o vácuo dos nossos afetos e solidão do nosso lar.
____Não será também para nós uma grande satisfação poder conservar em todo o seu
verdor e viço de beleza, essas joviais companheiras das nossas alegrias e tristezas,
essas plantas delicadas cujas folhagens e flores constituem o ornato dos nossos jardins
e dos nossos salões, e que, em virtude de uma nova moda, ocupam presentemente um
lugar tão elevado em nossa vida desde o berço até ao túmulo?
____Quando mesmo em nosso coração não encontrássemos ao lado do amor da
humanidade, um lugar modesto para os animais e as plantas, o interesse de nossa bolsa
nos exigiria poupar e prolongar a existência dos seres que nos são ao mesmo tempo
agradáveis e úteis, e cuja substituição não deixa de ser para nós uma despesa onerosa.
____Aliviar um ser que sofre, qualquer que ele seja, diz Deleuze, é sempre um bem, mas
curar os animais é, além do benefício que se lhes faz, prestar também, muitas vezes, um
grande serviço aos homens. Aubin Gauthier cita numerosos casos em que alcançou
resultados surpreendentes.
____Uma cachorra ainda nova acabara de parir, e tendo uma inflamação na cabeça, por
causa da lactação que não se havia estabelecido, sofria horrivelmente, apresentando os
olhos inchados e quase fechados. Logo no dia seguinte, depois de três sessões, os
olhos abriram-se perfeitamente e as dores se haviam acalmado; no fim de três dias, o
animal achava-se restabelecido.
____Uma outra cachorrinha, que também acabara de parir, tinha a cabeça mais
avolumada que o corpo, gania continuamente e não mais dormia: no prazo de três ou
quatro dias, uma evacuação extraordinária se manifestou, cessaram as dores, voltou o
sono, e o animal recuperou toda a sua alegria.
____Os cavalos e as vacas não são menos acessíveis ao magnetismo que os cães.
____Aubin Gauthier refere que, numa circunstância crítica, obteve sobre certa vaca um
verdadeiro êxito. Ela havia comido trevo molhado; sabe-se quais as conseqüências
graves que trazem este fato: a vaca inchava prodigiosamente e não havia ali quem, em
tal emergência, pudesse socorrê-la.
____Ele julgou dever magnetizá-la, e no fim de vinte minutos o animal expeliu gazes,
depois descargas flatulentas, que trouxeram como resultado o restabelecimento de sua
saúde.
____Os gatos, muito amantes de carícias, prestam-se muito especialmente à
magnetização, voltam-se e retorcem-se sobre si mesmos, colocam-se de modo a
receberem melhor a nossa ação, que apreciam imensamente.
____Eis um exemplo interessante, relatado pelo Sr. Miale: Ao entrar um dia em sua casa,
ele vê um ajuntamento no pátio: era um gato que caíra do quarto andar, e que jazia
inanimado na calçada; tentava-se chamá-lo à vida imergindo-o em água. O Sr. Miale
mandou conduzi-lo ao seu aposento, friccioná-lo bem com esponja molhada, enxugá-lo,
depois do que o estendeu sobre um tapete e o magnetizou; pouco a pouco, o gato volta
a si, estende as patas, volta a cabeça, muda de posição, abre os olhos, fecha-os depois,
parecendo aguardar mui tranqüilamente o resultado da operação. O Sr. Miale duplica de
esforços: o gato mexe-se, e parece encorajar o seu salvador com os miados repetidos,
em testemunho da satisfação que experimenta; e finalmente equilibra-se nas patas e
corre, aproveitando-se da porta aberta, que lhe restitui a liberdade.
____207. Os animais doentes possuem um olfato particular para discernirem o que lhes pode fazer
bem, e, dando tréguas aos seus hábitos e às suas propensões, prestam-se facilmente a
tudo que se exige deles para receberem os cuidados que se lhes dispensa. Tive ocasião
de verificar este fato muitas vezes.
____Conheci uma cachorrinha de raça escocesa, de nome Fly, tão detestavelmente
brava, que ninguém podia aproximar-se dela sem correr o risco de receber uma
dentada; atordoava com os seus latidos quando alguém chegava ou partia, e
acompanhava-o até a porta com as mesmas demonstrações; ninguém podia fazer-lhe
uma carícia, principalmente quando ela estava no colo da sua patroa. Este animalzinho
veio a cair doente, e como, apesar dos seus defeitos, fosse tratada com muito mimo, a
sua indisposição despertou muitos cuidados. Tentei magnetizá-la, a fim de acalmar as
preocupações da sua dona, que tinha por ela as ternuras de uma mãe; mas,
conhecendo a índole do animal, dispus-me a isso com o maior receio.
____Foi grande a minha admiração quando, em lugar da recepção que esperava, notei
que Fly deixava-se tocar, virar e revirar, como eu julgava conveniente, e desde esse
momento dignou-se fazer-me um acolhimento alegre, como se guardasse
reconhecimento pelo serviço que eu lhe havia prestado.
____Tive ainda ocasião de tratar de uma cadela felpuda que, em conseqüência da
enfermidade dos cachorrinhos, ficara paralítica na parte posterior do tronco. O
veterinário, tendo sido consultado, disse que o mal era incurável, com grande desgosto
da sua jovem dona, filha de um dos meus bons amigos. Compadeci-me de seu grande
desespero, e empreendi essa cura que, com grande contentamento geral, foi coroada de
pleno resultado: no fim de algumas semanas, a cadela estava tão viva e petulante, como
a mais esperta das de sua espécie.
____O que houve de particularmente tocante neste fato, foi a maneira pela qual o pobre
animal acolhia os meus cuidados: não somente fazia-me festa todas as vezes que me
via, mas prestava-se com uma boa vontade cômica a tomar todas as posições que eu
julgava dever dar-lhe, como se compreendesse que eu lhe trazia a saúde. Quando começou a caminhar, por si mesma, vinha exigir a sua sessão, procurando não
esquecer o momento em que, como de costume, se a tratava.
____Confesso que, por meu lado eu tomava tal interesse no tratamento, que teria tido um
verdadeiro remorso de faltar para com ela ao meu compromisso tácito.
Efetivamente, experimenta-se uma verdadeira satisfação em magnetizar os animais,
porque com eles tem-se imediatamente a prova da ação benéfica do magnetismo; a
plena confiança que mostram esses seres instintivos, anima e induz a levar-lhes auxílio
e socorro; não se sofre da parte deles esses movimentos de dúvida, hesitação e
incredulidade encontrados nos homens que, mui freqüentemente, pagam os vossos
cuidados com a mais negra ingratidão.
____"Curei muitos enfermos, diz Aubin Gauthier; alguns renegaram-me, outros evitaramme;
a gratidão para eles é um fardo; os animais, pelo contrário, são todos reconhecidos!"
"Os irracionais, já Sêneca o havia dito, são mais sensíveis aos benefícios que os
homens!"
____208. Apesar das inúmeras curas obtidas sobre os animais pela ação magnética, certas
pessoas, atribuindo essas curas a simples coincidências, poderiam ainda levantar
dúvidas acerca da eficácia dessa ação, se numerosas experiências não tivessem desde
muito tempo demonstrado que ela é um fato real e puramente físico.
____Em 1843, na sala Valentino, perante mais de 1500 pessoas, o célebre magnetizador
Lafontaine deu uma prova evidente e que não podia dar lugar a nenhuma suspeita de
fraude. Adormeceu um cão, caçador de lebre, fazendo-o entrar no estado cataléptico.
Desde os primeiros passes, houve da parte do público incrédulo e inclinado à
malevolência, uma verdadeira explosão de debiques e vaias.
____Chamava-se o animal, procurava-se desviar-lhe a atenção e impedir que o efeito se
produzisse; mas, quando se viu a cabeça do cão inclinar de lado e o animal cair rígido
como se estivesse morto, a atenção pública tornou-se profunda e o silêncio
restabeleceu-se na sala.
____Diversas pessoas foram chamadas para comprovarem o fenômeno: aproximaram-se
do cão, enterrou-se-lhes alfinetes nas carnes, disparou-se um tiro de pistola ao seu
ouvido e o cão não se mexeu; era um cadáver, e quando, alguns momentos depois, o
magnetizador arrancou-o desse estado letárgico, houve uma verdadeira ovação: a ação
magnética sobre os animais manifestava-se a todos, como um fato bem real.
____Já no ano 1840, em Tours, e num estabelecimento zoológico fora da cidade,
Lafontaine havia feito, num leão, uma experiência interessante diante dum público
numeroso: detendo-se junto da jaula, fixou o olhar sobre o animal e obrigou-o a fechar
os olhos. Quando, depois de vinte minutos de passes à distância, ele julgou o sono
bastante profundo, abalançou-se com mil precauções a tocar a pata que se achava junto
das grades, depois picou-a, e vendo que havia insensibilidade, levantou-a, tocou em
seguida a cabeça do animal, e finalmente introduziu sua mão na garganta, com grande
pasmo das pessoas presentes.
____Satisfeito com o que produzira, Lafontaine julgou dever despertar o leão, e fez-lhe
passes de dispersão. O leão abriu os olhos, levantou-se, sacudiu a juba e recuperou os
seus hábitos, passeando ao longo da jaula.
____209. A ação magnética sobre as plantas não é menos manifesta do que sobre os animais:
pode-se curá-las quando estão doentes, apressar-lhes o crescimento e a florescência;
numerosos fatos apresentam-se em apoio do que avançamos.
____No ano 1841, em Caen, Lafontaine possuía dois gerânios, um dos quais cheio de
seiva, e o outro quase sem vida. Começou a magnetizar este último, que não somente recuperou vitalidade, mas acabou por cobrir-se de largas folhas e crescer mais do que
aquele que não estava doente.
____O Sr. Dr. Picard, horticultor em São Quintino, fez uma série de experiências sobre
enxertos de roseiras.
____No dia 5 de abril, sobre seis enxertos feitos nas mesmas condições, ele abandonou
cinco ao seu desenvolvimento natural, e magnetizou o sexto; a roseira magnetizada deu,
em 10 de março seguinte, dois belos rebentos de 40 centímetros, encimados por dez
botões, enquanto que os outros tinham apenas rebentos de 5 a 10 centímetros e os
botões estavam longe de despontar.
____O enxerto magnetizado produziu de 5 de abril a 26 de agosto, em duas
florescências, maio e julho, dezoito magníficas rosas e forneceu 38 mudas, das quais
muitas deram flores, enquanto que no mesmo período os enxertos não magnetizados só
floresceram uma vez, em fins de junho, e deram ramos que atingiram apenas a um
desenvolvimento de 15 a 20 centímetros.
____O Sr. Picard experimentou igualmente a ação magnética sobre o desenvolvimento
das frutas: escolheu, sobre um pessegueiro escorado, um ramo onde havia três
pêssegos; magnetizou-os todos os dias por espaço de cinco minutos, e no dia 24 de
agosto estavam em perfeita maturação, havendo atingido um desenvolvimento de 21, 22
e 24 centímetros de circunferência, quando os outros frutos da árvore só amadureceram
em 25 de setembro e atingiram no máximo a 14 ou 15 centímetros.
____Tais fatos não precisam de comentários. Eu mesmo tive freqüentes ocasiões de
averiguar a benéfica influência que podemos exercer por nossa radiação sobre as
plantas; conservei em meu aposento plantas verdes, phenix ou palmeiras, durante dez
ou doze anos, no mais perfeito viço; tratei no parapeito de minha janela, de sálvias
(plectrantus fructcosus), que atingiram dimensões inteiramente desusadas, produzindo
verdadeiros arbustos com mais de 1,50 m de altura e 3 metros de ramagem, não porque
eu as magnetizasse todos os dias, mas sim devido aos meus cuidados constantes. A
planta é um ser vivo que exige, do mesmo modo que o animal e todos os seres da
natureza, não somente os elementos necessários à conservação da sua vitalidade, ar,
água, calor, luz, como também afeição. Sim, a planta tal como o próprio animal, não se
apraz na solidão: carece de quem a cuide, de quem a toque e se ocupe dela; vive em
grande escala das nossas emanações radiantes, e na maioria dos casos morre no
abandono e no isolamento, quando a arrancamos do seu estado natural, por isso que a
não associamos suficientemente à intimidade do nosso lar.
____Pode-se bem fazer uma idéia do efeito produzido por nossa ação radiante sobre as
plantas, atuando sobre bulbos de tulipas e de jacintos.
Magnetizando todos os dias, por espaço de cinco ou dez minutos, a água dos vasos
em que mergulham as raízes desses tubérculos, consegue-se dar à sua seiva uma tal
energia vital, que a haste e flor tomam em pouco tempo aparências extraordinárias. Um
dos meus amigos tinha sobre a lareira dois bulbos de jacintos cor de rosa, que
acabavam apenas de germinar e estavam em grau de igualdade no desenvolvimento;
fizemos a experiência de magnetizar um, deixando que o outro se desenvolvesse
livremente. A planta magnetizada excedeu muito a sua companheira e atingiu uma altura
de mais de cinqüenta centímetros. Para evitar que a flor não fizesse cair o vaso, fomos
obrigados a dar-lhe um ponto de apoio sobre o espelho da lareira.
____Este singular resultado, que comuniquei a um dos meus amigos, empregado numa
repartição ministerial, induziu-o a repetir a experiência: trouxe bulbos de jacintos para o
escritório e começou a magnetizá-los.
____Muitos dos seus companheiros imitaram-no. Em poucos dias, o campo de
experiência alargou-se, e a referida repartição (que não era a de agricultura) tornou-se em breve uma sucursal das estufas da cidade; em todos os escritórios entregaram-se os
empregados à cultura do bulbo de tulipa.
____210. Não seria demasiado insistirmos sobre os numerosos fatos que acabamos de citar;
porque, fornecendo-nos a prova da ação real do homem sobre os animais e as plantas,
demonstram bem que essa ação puramente dinâmica e física, depende da faculdade
natural que o homem possui de regular, condensar, e projetar por seu poder de volição,
as suas radiações magnéticas ou nêuricas sobre todos os corpos que o rodeiam e de
modificar-lhes as correntes. (24) ____Além disso, mostram-nos a unidade do princípio universal que une na natureza
todos os corpos entre si.
|